Falar sobre o desperdício de alimentos no Brasil é quase tão importante quando falar sobre a necessidade de trabalhar para preservar nossos recursos naturais. Anualmente nosso país perde, entre a colheita, manuseio, transporte e venda, cerca de R$ 12 bilhões em alimentos que seriam suficientes para alimentar 30 milhões de pessoas.As perdas na safra de grãos chegam a 10%, enquanto frutas, verduras e legumes apresentam uma perda de 20%. A distribuição do desperdício é a seguinte: 10% na colheita, 50% no manuseio e transporte, 30% nas centrais de abastecimento e 10% entre supermercado e consumidor (1). E quem paga a conta é o consumidor final, já que os custos desses desperdícios são embutidos no preço.

A questão apresenta um problema muito sério. Se a perda é um aspecto conhecido, para atender à demanda é necessário produzir mais do que seria preciso caso o desperdício oriundo da logística fosse evitado. Imagine que, em média, um produtor usa 15% de solo, água, adubo, pesticidas e outros considerando essa margem como uma perda de processo.

Outra questão a ser vista são os custos ambientais e sociais, pouco considerados atualmente nos processos agrícolas tradicionais. Neles estão incluídos: a perda da capacidade de produção do solo provocada pelo constante cultivo de monoculturas, a poluição de rios e lençóis freáticos pelo uso excessivo de agrotóxicos (basta ver a série sobre o assunto exibida nesta semana pelo Jornal Nacional), destruição dos ecossistemas locais pela intervenção humana (isso inclui o uso de grãos geneticamente modificados), doenças ocupacionais geradas pelo uso de agrotóxicos sem as devidas proteções, entre outros.

Mas essa não é a única fase do desperdício. Segundo o Instituto Akatu, 1/3 do que compramos vai para o lixo na forma de cascas, folhas, talos e alimentos estragados. Quando desperdício! Quantos recursos naturais jogados para o lixo! Quantas pessoas ainda passam fome num mundo de tantos excessos e desperdícios!

Felizmente existem algumas maneiras de reduzir nossa participação nessa cadeia inglória. Convido você para entrar no ciclo virtuoso do consumidor consciente adotando, de imediato, os seguintes hábitos (caso ainda não tenha adotado):

Planejar as compras de alimentos, comprar e cozinhar apenas o necessário– quando fui morar com meu marido, embora já estivesse morando sozinha a algum tempo, comecei a sentir o peso do desperdício. Antes, acostumada a comer fora, não tinha idéia de como podemos desperdiçar comida se bobear na hora de comprar. Não sabia cozinhar pequenas quantidades e a comida acabava estragando. A solução foi planejar as refeições para a semana, comprando os artigos perecíveis, pelo menos, uma vez na semana. Também diminui o estoque de mantimentos e passei a manter apenas o que realmente consumíamos rotineiramente. Aqueles itens que mantínhamos para as visitas eventuais foram cortados. Por fim, comprei panelas menores. Assim os alimentos são consumidos antes de estragar e em tempo do meu marido não enjoar (eheheh!).

Cultivar temperos e ervas em casa– mesmo no apartamento, sempre tive vasos com os temperos básicos. Isso é ótimo para duas coisas: ter temperos sempre frescos, na quantidade que precisamos, e ter um hobbie que nos liga às origens, à terra. É muito fácil começar a sua horta de temperos. Alguns supermercados vendem mudas dos principais temperos usados na cozinha brasileira. Basta trocar o vaso no qual elas são vendidas.

Compostar os resíduos de alimentos – a geração de resíduos é inevitável. São cascas, talos, folhas que – se você não tiver alguns porquinhos-da-índia – acabam se tornando resíduos. Ter uma composteira em casa é muito útil pois, além de não jogar esses resíduos no lixo (afinal, eles não são lixo), gera-se um adubo de excelente qualidade para usar naqueles vasinhos de temperos que plantamos para atender nossa cozinha. Dessa forma, retroalimentamos nosso sistema com insumos que antes seriam desperdiçados.

 Para ajudar da adoção dos hábitos sugeridos, sugiro ler também os seguintes artigos:

Mas se você já é adepto desses hábitos, que tal contar sua experiência no campo de comentários?

 

Referências

 (1) O desperdício brasileiro uma cultura a ser modificada e uma responsabilidade de todos REVISTA VEJA: (edição 1749, ano 35, nº 17)


Elaine Maria Costa
Elaine Maria Costa

Elaine Maria Costa é administradora, coach e permacultora, faz compostagem doméstica desde 2009. Em 2013 mudou-se de uma área urbana para morar numa chácara em Embu das Artes – SP com o objetivo de ter maior qualidade de vida, contato com a natureza e sustentabilidade pessoal.