Hoje, assistindo aos jornais na TV (não lembro qual) vi uma notícia muito preocupante. Segundo ela, vários condomínios que investiram em coleta seletiva na cidade de São Paulo estão com os sistemas sem uso. Isso porque a prefeitura não fez a parte dela em investir na ampliação dos programas de reciclagem através das cooperativas e outros.

Tudo bem que é quase impossível fazer alguma coisa crescer no mesmo ritmo que cresce a demanda por recursos em São Paulo. Mas investir em programas de conscientização para reduzir a geração e para fazer compostagem em casa seriam uma boa saída. Isso se houvesse vontade política.

Imagine que uma cidade como São Paulo, considerada a maior da América Latina, além de não produzir aquilo que consome é incapaz de dar destino aos resíduos que produz. Ou seja, é completamente insustentável. Pode ser rica para trazer os insumo, mas é pobre no essencial: vida.

Os insumos vem de fora, o que inclui a água usada em casas, empresas e indústrias. Boa parte dela já vem de Minas ou do Paraná. E mesmo com essa preciosidade toda, a água é usada para levar os dejetos e lixo das pessoas. As veias da cidade, representadas pelos rios, estão doentes a muito tempo. Não há vida nelas.

Os alimentos, insumos que também vem de fora, são perdidos em todas as fases do processo, desde a colheita até o consumo. E São Paulo paga por isso sem reclamar. Até o lixo orgânico, que poderia ser reciclado ao lado de onde foi gerado, é colocado em sacos plásticos e enviado para longe, como se fosse algo profano. O que, na verdade, é um grande motivo de vergonha para todos. Por razões que não consigo compreender – alguns podem chamam de nojo – os resíduos não são compostados, ferindo as leis naturais onde tudo é insumo para outro processo.

O pior é perceber que a prefeitura vai continuar com a sua empreitada rumo ao caos absoluto como se um buraco negro não fosse um buraco. Quero ver se vai aparecer alguém nessas eleições com coragem o suficiente para falar a verdade: que o sistema não funciona, que o problema do trânsito são os carros e que a cidade está doente. O problema é que, com certeza, não será eleito. Afinal, negar um problema é muito mais fácil do que aceitar a realidade.

Só quero ver como vão ficar as coisas… Enquanto o dinheiro for a moeda de troca que traz os insumos para a Capital, ok! Mas, como ocorreu no Japão e em outros países, é impossível prever quando a vida vai se mostrar mais valiosa que o dinheiro.


Elaine Maria Costa
Elaine Maria Costa

Elaine Maria Costa é administradora, coach e permacultora, faz compostagem doméstica desde 2009. Em 2013 mudou-se de uma área urbana para morar numa chácara em Embu das Artes – SP com o objetivo de ter maior qualidade de vida, contato com a natureza e sustentabilidade pessoal.