Desde antes do lançamento do Kindle da Amazon busco alternativas para a leitura tradicional em papel. Já usei Palm e Smartphone para a tarefa com relativo sucesso e, a algum tempo, namoro o Kindle à distância. Afinal, o uso de um leitor de livros digitais representa uma poderosa contribuição na redução de nossa pegada ecológica, além de ser leves, práticos para carregar de baixo consumo energético.

Apesar disso, não me atrevo a fazer qualquer compra. E a razão é a tal da “obsolescência perceptiva”, responsável pela criação do impulso de trocar um item em ótimo estado por outro com algum tipo de melhoria em relação ao primeiro. Veja um exemplo atual dessa questão.

Anteriormente esperado como o “Kindle Killer”, o iPad da Apple segue claramente a mesma linha de lançamento do primeiro iPhone, chegando ao mercado sem 3G quando a tecnologia já estava disponível. Sem alguns dos componentes considerados essenciais para um equipamento que busca inovar a maneira com que as pessoas se relacionam com conteúdo e mídia, a primeira versão do iPad dá a entender que serão lançados modelos mais completos.

Primeiro, a tela não é amigável para livros, diferentemente dos demais e-readers que usam a tecnologia e-ink. Segundo, só tem comunicação por meio do wi-fi, deixando de lado o 3G ou transferência de dados por USB. Terceiro, a memória interna é algo como 16GB, suficiente para arquivos de texto mas ridícula para quem espera usar o equipamento para mídia. Quarto, não é multi-tarefa, não roda aplicativos em flash e não tem câmera (Hum… ele serve para que mesmo?).

Diante dessa situação, fica a questão: por que a Apple não aperfeiçoou o iPad, lançando um equipamento que claramente será substituído em pouco tempo? E a resposta é: porque existem pessoas aficionadas por tecnologia que vão comprar a primeira, a segunda, a terceira e quantas versões forem lançadas. É claro que existem as questões mercadológicas, que fazem as empresas lutarem para estar na mente do consumidor. Mas é um desperdício investir tantos recursos em um produto que não está pronto. Não só para a empresa e o meio ambiente, como também para o consumidor que adquiriu um produto que atende parcialmente às expectativas.

E o que será dos equipamentos usados quando lançarem outras versões?

Reciclagem, você pode ter pensado. Ok, isso pode até funcionar, mas reciclar é o último dos Rs do ciclo de destinação. Temos primeiro repensar, reduzir e reaproveitar. Assim, antes de mais nada, recomendo o uso intensivo dos três primeiros Rs.

Por fim, não sou nem contra e nem a favor do iPad. Certamente existe um público que fará bom uso da primeira versão. Só não acho que lançar um produto atrás do outro seja a solução para os problemas do mundo. Criam-se novas necessidades, mas não existe previsão de se satisfazer as antigas. E a lista é bem grande…


Elaine Maria Costa
Elaine Maria Costa

Elaine Maria Costa é administradora, coach e permacultora, faz compostagem doméstica desde 2009. Em 2013 mudou-se de uma área urbana para morar numa chácara em Embu das Artes – SP com o objetivo de ter maior qualidade de vida, contato com a natureza e sustentabilidade pessoal.