Muito foi conquistado desde o discurso  do  presidente  Jonh  Kennedy, em 15 de março de 1962, que declarou:  …  “ os  consumidores  constituem  o  mais  importante  grupo  econômico (…)  e  o  único  grupo  importante  da  economia  cujas  opiniões  não  são  escutadas. Consumidores,  por  definição,  somos  todos  nós”. Por isso, a data foi escolhida para comemorar o Dia do Consumidor (fonte: Associação Brasileira de Desefa do Consumidor)

No Brasil, os anos 60 foram palco da Lei Delegada n.º 4 de 1962, visando garantir a livre distribuição de produtos. Nos anos 70, o Governo do Estado de São Paulo criou o primeiro órgão de proteção ao consumidor, o PROCON. No começo da década de 90 foi sancionada a Lei 8.078,  conhecida como Código de Defesa do Consumidor.

Embora ainda hoje o respeito ao direito do consumidor não tenha alcançado o ideal olímpico, a questão do consumo como propósito de vida é ainda menos considerada. Por isso, em tempo para ressaltar a representatividade do Dia do Consumidor, compartilho alguns tópicos que considerei interessantes na minha pesquisa sobre o assunto.

Considerações sobre consumo

O Professor Anderson Moebus Retondar apresenta uma definição que considerei extremamente acertada para a questão do consumo:

“A sociedade de consumo caracteriza-se, antes de tudo, pelo desejo  socialmente  expandido  da  aquisição  “do  supérfluo”,  do excedente,  do  luxo.  Do  mesmo  modo,  se  estrutura  pela  marca  da insaciabilidade,  da  constante  insatisfação,  onde  uma  necessidade preliminarmente   satisfeita   gera   quase   automaticamente   outra necessidade, num ciclo que não se esgota, num continuum onde o final do ato consumista é o próprio desejo de consumo.”

A difusão dessa formato de pensamento teve início no século XVIII, na Europa Ocidental, acelerando-se após a segunda metade do século XX.

Apartir desse momento houve uma mercantilização de áreas da vida antes consideradas fora da questão do consumo, como a família, a escola, a ética, etc. Na resenha do livro a Felicidade Paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo de Gilles Lipovetsky, feita pela Professora Isleide A. Fontenelle, é ressaltado que:

“Trata-se do estágio de erosão de  qualquer  referência  institucional e da emergência de um novo tipo de consumo subjetivo, emocional ou experiencial, muito mais voltado para a satisfação do eu do que para a exibição social e a busca de status, anseios que teriam caracterizado a segunda fase.”

O autor também comenta sobre o conceito de consumo consciente que, segundo ele, seria negar o fato do consumidor ser manipulado pelas marcas através da desorientação e das dúvidas sobre qual escolha fazer. Sobre esse ponto, acredito que Lipovetsky esteja se referindo à busca das empresas em se mostrar mais sustentáveis do que são, tentando fazer o consumidor acreditar em meias verdades ou criando dúvidas sobre o real compromisso socio ambiental da instituição.

À despeito do lado obscuro do consumo, segundo a resenha, Lipovetsky não o considera como o maior dos problemas:

“Esvaziada de valores, resta à sociedade depositar no consumo os ideais de  moralidade,  ética,  solidariedade, enfim, de felicidade. Tratar-se-ia, portanto, de não demonizar o consumo, mas de desinvesti-lo de um ideal fadado ao fracasso.”

O ponto crítico continua sendo a perda dos valores e identidades sociais, criando referências de comportamento falsos e incompletos. O que vemos é o uso do hábito de consumir como um refúgio para as ausências de propósitos. Cada vez mais, a busca por status se sobrepões à busca por sentido.

Concluindo

Conquistamos muito no campo de Direitos do Consumidor, mas ainda estamos engatinhando em relação aos nossos DEVERES. Segundo o filósofo Teilhard de Chardin, “nenhum homem é uma ilha”; somos todos dependentes uns dos outros.

Precisamos reconhecer que a falta de harmonia entre o homem e o meio ambiente é, antes de tudo, fruto do estilo de vida adotado pela sociedade atual. Somente uma mudança profunda em nossos hábitos poderá minimizar o problema.

Créditos pela foto: somegeekintn

Bibliografia:

Associação Brasileira de Defesa do Consumidor. Breve Histórico.

RETONDAR, Anderson Moebus. A (re)construção do indivíduo: a sociedade de consumo como “contexto social” de produção de subjetividades.

FONTENELLE, Isleide A. Os Paradoxos do Consumo. Resenha.


Elaine Maria Costa
Elaine Maria Costa

Elaine Maria Costa é administradora, coach e permacultora, faz compostagem doméstica desde 2009. Em 2013 mudou-se de uma área urbana para morar numa chácara em Embu das Artes – SP com o objetivo de ter maior qualidade de vida, contato com a natureza e sustentabilidade pessoal.