3289308282_0bd20c2215_mQue sustentabilidade é a capacidade de se sustentar ou manter, todos concordam. Mas quando precisamos aplicar esse conceito ao desenvolvimento sustentável, muitas são as divergências de opinião. Por isso, com o objetivo de compreender melhor o que significa ser sustentável  passei a estudar alguns artigos e dissertações sobre o assunto. Dentre os vários que encontrei um me chamou muito a atenção, pois além de apresentar um histórico completo sobre o entendimento da sustentabilidade  também contém teorias claras e objetivas que nos fazem entender melhor esse conceito.

Autor de nove livros, incluindo o The Party’s Over, Peak Everything e do recém-lançado Blackout (não encontrei versão em português), Richard Heinberg é amplamente considerado como um dos mais eficazes comunicadores da urgente necessidade de superação do uso dos combustíveis fósseis. Em seu artigo Five Axioms of Sustainability, publicado no Global Public Media, ele discute a evolução do termo sustentabilidade e apresenta os cinco axiomas da sustentabilidade (nota: axiomas são proposições que não são provadas ou demonstradas, mas são consideradas como óbvias ou como um consenso inicial – fonte: wikipedia).

Sendo assim, relaciono em seguida os pontos que considerei mais relevantes no artigo:

Panorama histórico

  • O conceito essencial sobre sustentabilidade já era consagrado dentro das tradições dos povos indígenas, como por exemplo a Grande Lei da Paz ou Gayanashagowa (a constituição do Haudenosaunee ou das Seis Nações de Iroquois) que estabelecia a avaliação dos impactos de suas decisões até a sétima geração posterior.
  • O primeiro uso europeu da palavra sustentabilidade deu-se em 1712 no livro “Sylvicultura Oeconomica”, do silvicultor e cientista alemão Hannss Carl von Carlowitz.
  • O termo sustentabilidade ganhou difusão após 1987, quando o Relatório Brundtland da Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento definiu o desenvolvimento sustentável como aquele que “satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades“.
  • Ainda nos anos 80, o oncologista sueco Dr. Karl-Henrik Robert reuniu líderes e cientistas para encontrar um consenso sobre os requisitos de uma sociedade sustentável. Em 1989 foi criado um consenso composto de quatro condições para sustentabilidade, que se tornaram a base da organização conhecida como The Natural Step. São elas:

1. Para que uma sociedade seja sustentável, as funções da natureza e da diversidade não são sistematicamente sujeitas a concentrações crescentes de substâncias extraídas a partir da crosta terrestre.

2. Para que uma sociedade seja sustentável, as funções da natureza e da diversidade não são sistematicamente sujeitas a concentrações crescentes de substâncias produzidas pela sociedade.

3. Para que uma sociedade seja sustentável, as funções da natureza e da diversidade não são sistematicamente empobrecidas pelo deslocamento físico, o excesso de colheita, ou de outras formas de manipulação ecossistema.

4. Em uma sociedade sustentável, as pessoas não estão sujeitas a condições que sistematicamente minar a sua capacidade para satisfazer as suas necessidades.

  • Em 1992, observando à necessidade de se medir a sustentabilidade, o ecologista canadense Willian Rees introduziu o conceito de Pegada Ecológica, definindo a quantidade de terra e água necessária para fornecer os recursos necessários à humanidade, bem como para absorver seus resíduos.
  • Em seu trabalho publicado em 1994, o professor de física Albert A. Bartlett apresentou as 17 Leis da Sustentabilidade, esclarecendo o significado de sustentabilidade sob a ótica da população e do consumo de recursos, além de criticar o uso indiscriminado do termo.

Os cinco axiomas da sustentabilidade

Com o objetivo de refinar a discussão sobre o conceito de sustentabilidade, Richard Heinberg propôs cinco axiomas que contém as principais definições sobre o assunto. Embora não apresente idéias novas, os axiomas simplificam os vários conceitos existentes e os apresentam de forma precisa e de fácil compreensão.

1. (Tainter’s Axiom): Qualquer sociedade que continua a utilizar recursos críticos insustentavelmente entrará em colapso.

Exceção: Uma sociedade pode evitar colapso por encontrar substituição recursos.
Limite à exceção: Num mundo finito, o número de possíveis substituições é também finito.
Discussão: o colapso é o destino comum das sociedades que ignoram seus recursos.

2. (Bartlett’s Axiom): O crescimento da população e / ou de crescimento nas taxas de consumo de recursos não pode ser sustentado.

Discussão: Uma conta simples mostra que, mesmo a pequenas taxas de crescimento continuado, a população ou o consumo pode se tornar absurdamente grande ou totalmente insustentável.

3. Para ser sustentável, a utilização de recursos renováveis deve proceder a uma taxa que é inferior ou igual à taxa de reposição natural.

Discussão: Recursos renováveis são esgotáveis e podem se tornar escassos com a super exploração dos mesmos. É por isso a utilização desses recursos precisa respeitar a “taxa de reposição natural”, de forma a evitar a diminuição e até o seu esgotamento.

4. Para ser sustentável, a utilização de recursos não-renováveis devem ocorrer a uma taxa em declínio, e a taxa de declínio deve ser igual ou superior à taxa de esgotamento, que é definida como a quantidade a ser extraída e utilizada durante um determinado intervalo de tempo (normalmente um ano).

Discussão: Somente se a taxa de utilização estiver diminuindo a uma taxa igual ou superior à taxa de esgotamento, a situação pode ser considerada sustentável, uma vez que a dependência do recurso será reduzida significativamente perante o recurso em esgotamento.

5. A sustentabilidade exige que as substâncias introduzidas no ambiente a partir de atividades humanas sejam minimizadas e tornadas inofensivas à biosfera.

Discussão: Se os axiomas de 2 a 4 forem seguidos, a poluição deve ser minimizada por conseqüência. As formas mais graves de poluição no mundo moderno surgem da extração, transformação e consumo de recursos não-renováveis. Assim, se o consumo de recursos não-renováveis diminuir, a poluição também deverá diminuir.

Conclusão

O objetivo principal de Richard Heinberg com esses axiomas não é descobrir formas de tornar a sociedade mais justa, mas sim de torná-la com condições de se manter ao longo do tempo. Embora o autor não discuta sobre questões sociais, ele próprio reconhece que a adoção dos cinco axiomas é uma opção para a diminuição das diferenças sociais e da criação de uma sociedade mais equilibrada.

Apesar disso, Richard Heinberg cita que as questões políticas podem representar grandes impedimentos para a adoção dessas práticas. A menos que a população seja convencida dessas necessidades, exigir o fim do crescimento populacional e até seu declínio não seria popular. Ainda assim, o autor informa que caso os líderes não observem esses axiomas, as sociedades correm o risco de entrar em colapso, o que talvez seja a única forma de ocorrer a superação das resistências políticas que frustram as iniciativas ligadas à verdadeira sustentabilidade.

Referências:

HEINBERG, Richard. Five Axioms of Sustainability. http://www.globalpublicmedia.com/articles/851 acesso em 19 de julho de 2009.

Créditos pela foto: Dominic’s pics


Elaine Maria Costa
Elaine Maria Costa

Elaine Maria Costa é administradora, coach e permacultora, faz compostagem doméstica desde 2009. Em 2013 mudou-se de uma área urbana para morar numa chácara em Embu das Artes – SP com o objetivo de ter maior qualidade de vida, contato com a natureza e sustentabilidade pessoal.