ID-100154461Imagine uma cidade com trânsito intenso, com vários congestionamentos (São Paulo na véspera de feriado, por exemplo). Por não ser uma cidade totalmente planejada, cada rua e avenida têm suas características próprias. Isto é, algumas favorecem o fluxo, outras favorecem “fechadas” entre carros, algumas tem semáforos bem ajustados, outras precisam de revisão do seu sentido. Assim, muitos pontos na cidade favorecem o desafio diário da convivência gerada pelas circunstâncias.

Infelizmente, a maioria das pessoas não sente o desafio da convivência como uma oportunidade, mas sim como várias situações provocadas intencionalmente para prejudicá-las. Assim, quando alguém as “fecha” no transito, elas preferem acreditar que o evento foi proposital, e não perceber que o motorista não podia adivinhar, por exemplo, que a outra faixa estava fechada.

Para entender o papel e a responsabilidade individual é preciso estar consciente, ser o observador dos pensamentos, sentimentos e emoções. Se você não é capaz de perceber os próprios pensamentos, entendendo finalmente que eles não são você, é impossível evoluir para o estado de consciência. Conseqüentemente, é impossível reconhecer que nós, e apenas nós, somos responsáveis por tudo o que acontece em nossas vidas.

Você pode estar pensando agora: mas como posso ser responsável por alguém que “fechou” meu carro no transito? Está querendo dizer que atraí isso para mim? Sim e não. É preciso ampliar muito nossa consciência para reconhecer se algo que nos acontece é causa ou efeito. Independente disso, nós sempre podemos escolher como agir diante de uma situação se estivermos dentro do nosso corpo, conscientes de quem somos e observadores das nossas próprias reações.

Agir é diferente de reagir (leia mais sobre esse assunto aqui). Quando algo nos desagrada, nosso primeiro impulso é reagir à situação. Voltando ao exemplo da “fechada”, a reação seria abrir o vidro e xingar, buzinar e até tentar seguir o motorista mal educado. Tudo isso com um grande desgaste físico e emocional, sem falar no perigo físico de se abordar um estranho dessa maneira. Não existe escolha na situação. Apenas inconsciência e atitudes pré-condicionadas.

E não é só isso. Depois do evento, pode surgir o sentimento de culpa, o reconhecimento do comportamento inadequado, o sentimento de auto piedade, no qual passa-se a achar que esse tipo de situação só acontece com a gente, o sentimento de raiva e auto justificação, porque é um absurdo alguém fazer isso conosco, entre outros. Todos frutos da inconsciência.

Para que exista uma ação, é necessário que haja escolha. E para haver escolha, é preciso existir um espaço favorável às decisões. Assim, se nossa mente estiver sempre tomada por pensamentos, nunca ficaremos conscientes para fazer escolhas. Mas se estivermos conscientes, vamos perceber que o motorista não nos fechou, mas teve que desviar pois havia um buraco na rua, por exemplo.

Mas ainda que alguém nos prejudique de forma proposital, podemos escolher nossa ação. Quando deixamos a raiva e outros sentimentos tomarem conta, estamos permitindo que a outra pessoa nos controle através da reação que provoca em nós. Mas quando decidimos agir, seja abstraindo algumas situações ou trabalhando para mudar aquelas que podem ser revertidas, exercemos nosso direito indelegável de escolha.

Consciência é escolha. Escolher é assumir a responsabilidade. Ser responsável é ser verdadeiramente livre.

Imagem cortesia de Sira Anamwongfreedigitalphotos.net


Elaine Maria Costa
Elaine Maria Costa

Elaine Maria Costa é administradora, coach e permacultora, faz compostagem doméstica desde 2009. Em 2013 mudou-se de uma área urbana para morar numa chácara em Embu das Artes – SP com o objetivo de ter maior qualidade de vida, contato com a natureza e sustentabilidade pessoal.