Aprendemos mais observando como a vida se move à nossa volta do que em bancos de escola. Isso fica cada vez mais claro com o passar dos anos. Por isso, comecei a pensar sobre o que podemos aprender observando a prática da compostagem doméstica. Mas não só em relação à redução de desperdícios e reciclagem. Refiro-me à sabedoria de vida que está oculta nesse processo tão orgânico. Assim, cheguei a alguns pontos:

  1. Tudo tem seu tempo. Precisamos conhecer a natureza de cada resíduo e o tempo que necessita para ser compostado para que o processo seja feito dentro do tempo mais adequado. Mesmo assim, não podemos atropelar esse processo, uma vez que ele é realizado segundo os ciclos naturais. Ou seja, de acordo com as regras estabelecidas pela Natureza. Assim, aprendemos que é possível realizar qualquer coisa, desde que respeitemos os ciclos.
  2. Não existe lixo. O que seria algo sem uso para alguns se torna o começo do processo de compostagem. Isso nos ensina que nada se perde, mesmo uma idéia que possa parecer absurda a alguns. Tudo o que existe hoje começou com um pensamento diferente do que acontecia em sua época. Afinal, as grandes invenções que usamos hoje evoluíram a partir de alguma idéia “absurda”.
  3. Tudo que existe tem um propósito. Muita gente tem nojo de minhocas, mas elas são uma verdadeira benção da criação para tornar nosso solo um campo adequado para se plantar e colher. Assim, quando nos perguntamos sobre a existência de coisas que não compreendemos, como certas culturas humanas, alguns tipos de plantas, ou até algumas pessoas, lembremo-nos que existe uma boa razão para isso. Não temos condições de observar todos os aspectos das situações e, por isso, não somos capazes de avaliar todas as questões para encontrar a melhor solução. Somente a Deus isso é possível.
  4. Desperdício é uma opção. Quando aprendemos a reciclar e compostar nossos resíduos, fica claro que o desperdício existe quando nos propomos a criá-lo. Se buscarmos soluções para reduzir a geração de lixo, nós as encontraremos. Da mesma forma que encontramos desculpas para justificar alimentos que estragam na geladeira, tempo desperdiçado com atividades pouco produtivas, excesso de trabalho mundano e conversas aleatórias.
  5. Muitas coisas são previsíveis. Quando colocamos resíduos crus intercalados com serragem ou folhas secas, sabemos que o resultado será um bom húmus de minhoca. Mas se colocamos laticínios, carnes ou muito alimento cozido, teremos que lidar com vários bichinhos desagradáveis, como larvas, baratas e até ratos. E isso funciona sempre da mesma forma para qualquer pessoa. Assim, muitas situações que se repetem em nossa sociedade são casos de repetições de padrões que não funcionam. Mas por que continuamos a fazer as coisas mesmo sabendo que elas não funcionam? E lá vêm as respostas de sempre: “isso sempre foi assim”, “o que posso fazer? Sou apenas uma pessoa”, “é nadar contra a maré”, entre outras. Querendo admitir ou não, muitos de nós preferimos a segurança das massas às críticas pela diferença. Mas é na diferença de mentalidade que repousa a esperança para o futuro.

Por agora, essas são as lições que fazer compostagem doméstica já me ensinou. Mas essas lições não se encontram apenas na compostagem. Todos os dias vivenciamos situações que ajudam a aprofundar nossa percepção sobre a vida. Basta mantermos a mente aberta e atenta.


Elaine Maria Costa
Elaine Maria Costa

Elaine Maria Costa é administradora, coach e permacultora, faz compostagem doméstica desde 2009. Em 2013 mudou-se de uma área urbana para morar numa chácara em Embu das Artes – SP com o objetivo de ter maior qualidade de vida, contato com a natureza e sustentabilidade pessoal.