O artigo “Cuidado! A internet pode te deixar mais burro”, de Rodolfo Araújo, nos oferece uma importante reflexão sobre como estamos tratando do nosso processo atual de construção do conhecimento. Nele, o autor discorre sobre os trabalhos de Nicholas Carr, referenciando principalmente seu último livro, The Shallows: What the Internet is Doing to Our Brains (Algo como Superficialidade: o que a internet tem feito com os nossos cérebros).

A questão levantada é muito importante. De acordo com o conceito de neuroplasticidade, nosso cérebro é capaz de mudar e se adaptar durante toda a vida. Por isso pessoas que sofreram acidentes que comprometeram parte do cérebro são capazes de recuperar parte das habilidades perdidas. Por outro lado, de acordo com o ambiente em que estamos inseridos, podemos evoluir ou regredir no processo de aprendizagem.

Nesse contexto, a internet tem nos cativado pela possibilidade de obter informação rápida e objetiva sobre qualquer assunto. Isso nos satisfaz diante da atual escassez de tempo, o que é até bom para nos mantermos atualizados. O problema está em manter todo o nosso aprendizado nesse nível.

Diante de contato intenso com informações superficiais nosso cérebro passa a adotar o mesmo comportamento com informações que exigem maior aprofundamento. Ou seja, passamos a encontrar cada vez mais dificuldade em elaborar pensamentos complexos ou manter a concentração durante a leitura de um livro.

Outro reflexo está na produção de conteúdo. Para atender uma demanda de leitores que buscam informação rápida, os textos se tornam cada vez mais reduzidos. Como comenta Rodolfo Araújo, embora a tecnologia apresente muitos benefícios, se quem escreve não tiver paciência para ler do começo ao fim, nenhum desses benefícios será realmente válido.

Nesse contexto, a revista INFO de Nov/2010 traz uma entrevista com Nicholas Carr que, dentre outros assuntos, comentou sobre a transformações dos e-readers em dispositivos multitarefa:

“No estágio inicial em que estão, acho que os e-readers replicam a boa experiência de ler um livro. Um livro estimula as pessoas a ter um pensamente interpretativo. Mas, quanto os e-readers incorporarem outras funções, como vídeo, acesso a redes sociais e e-mail, esses elementos distrativos vão quebrar o pensamento profundo do leitor”.

Isso significa que precisamos de cautela ao optar por esses dispositivos, tanto e-readers com conexão à internet, tablets ou smartphones. O efeito “hiperlink” é o elemento responsável pela maior parte das distrações durante a leitura. Por isso, se você usar um desses equipamentos, é bom refletir sobre como anda a sua capacidade de leitura.

O saber é construído a partir no não-conhecimento, evoluindo na medida em que trabalhamos os assuntos. Iniciar a aprendizagem de um assunto buscando referências na internet é positivo, mas a construção do conhecimento não pode se basear apenas nisso.

Por essa razão, cautela e caldo de galinha são fundamentais quanto falamos de informações pré digeridas. Precisamos buscar medidas que evitem a superficialidade como elemento constante em nossas relações de aprendizagem.

Aquela recomendação de professores ou dos especialistas em contratação sobre a necessidade de sempre estarmos lendo algum livro é muito válida. Não há nada melhor do que ler para exercitar a concentração, reflexão e análise, alem de evitar que nos tornemos pessoas com informações apenas superficiais. Assim, o que você vai ler a seguir?

Referências e links (inseridos ao final do artigo para que você pudesse ler sem perder o foco)

Cuidado! A internet pode te deixar mais burro

The Shallows: What the Internet is Doing to Our Brains

Revista INFO

Créditos pela foto: renjith krishnan


Elaine Maria Costa
Elaine Maria Costa

Elaine Maria Costa é administradora, coach e permacultora, faz compostagem doméstica desde 2009. Em 2013 mudou-se de uma área urbana para morar numa chácara em Embu das Artes – SP com o objetivo de ter maior qualidade de vida, contato com a natureza e sustentabilidade pessoal.