Sou freqüentadora assídua da Morada da Floresta. Adoro o ambiente criado pela Paula e o Cláudio, no qual um lar se transforma numa luz que ajuda a modificar as coisas à sua volta. Tudo o que eles fazem é repleto de amor e boas energias. Por isso, grande foi a minha surpresa em saber das dificuldades que um excelente produto fabricado por eles, a fralda ecológica, enfrenta no mercado nacional.

Ainda seguindo a falsa idéia de que importado é melhor, muitas mães optam por trazer de fora as suas fraldas de pano. O motivo, segundo pude verificar, é que os materiais importados são mais absorventes do que os materiais disponíveis no mercado nacional. Assim, em nome da comodidade, os produtos nacionais são deixados em segundo plano.

Mas cabe um esclarecimento sobre essa questão. Todos já ouvimos falar sobre a lei da oferta e da demanda, na qual a demanda de produtos pelos consumidores diante de um mercado competitivo obriga que as empresas melhores suas práticas e se diferenciem. Nesse contexto, a melhora da qualidade dos produtos é apenas uma questão de tempo e de mudança no comportamento de compra dos consumidores.

Dito isso, como podemos esperar que os produtos fabricados aqui se tornem melhores do que os importados quando o mercado é tão restritivo? No caso das fraldas de pano, qual o incentivo que os fabricantes tem para aperfeiçoar os produtos se a maior parte das mães prefere os importados?

Além da questão ambiental está a questão social. Embora o uso de fraldas de pano contribua com a preservação no nosso Planeta, a aquisição de itens importados envia o nosso dinheiro para outros países. Ou seja, financiamos empresas em outros países (com responsabilidade social duvidosa) e deixamos de suportar a atividade das empresas aqui, onde podemos fiscalizar. Como a maioria dos fabricantes de fraldas de pano são pequenas empresas, que dependem do dinheiro das vendas para reinvestir na produção, os pequenos negócios acabam se tornando inviáveis. E isso ocorre em vários outros ramos de atividade.

Assim, como ressalta Paulo Singer, “consumir um produto que possui as mesmas qualidade que os similares – sendo ou não um pouco mais caro – ou um produto que tenha uma qualidade um pouco inferior aos similares – embora seja também um pouco mais barato – com a finalidade indireta de promover o bem-viver da coletividade (manter empregos, reduzir jornadas de trabalho, preservar ecossistemas, garantir serviços públicos não-estatais etc.) é o que denominamos aqui como consumo solidário” [1].

Para esclarecer os benefícios do consumo solidário, seguem alguns critérios a serem adotados na hora de comprar:

  • Entre dois produtos importadosescolha aquele feito em países com melhor índice de desenvolvimento humano. Só compre de países com baixo IDH se tiver certeza de idoneidade da empresa.
  • Entre um produto nacional e um importadoprefira o nacional. Mesmo se a qualidade for inferior, ao ajudar a financiar a produção nacional estará fortalecendo o fabricante, incentivando para que busque melhores produtos, além de manter o dinheiro e o trabalho de várias pessoas dentro do nosso país.
  • Entre um produto feito longe da sua casa e outro feito próximoprefira o produto feito próximo. Isso diminui a quantidade de combustível gasto para trazer um determinado item ao mercado perto da sua casa, além de fortalecer a economia local, geralmente composta por empresas de menor porte.
  • Entre dois produtos feitos próximos da sua casaprefira aqueles com menor impacto ambiental e social. Ou seja, feito com ingredientes naturais, orgânicos, biodegradáveis, que apresentem menor quantidade de resíduos a serem processados após o uso, cuja empresa respeita os direitos dos funcionários e se preocupa com o impacto das suas atividades na comunidade.

Pode parecer difícil tomar todos esses cuidados à primeira vista. Afinal, são tantos detalhes a serem avaliados. Mas o trabalho vale a pena.

Quando optamos por financiar pessoas e empresas que estão fazendo a sua parte, também fortalecemos esse trabalho. Nossas decisões de consumo são como os votos numa eleição: o maior número decide quem ganha. Por isso, quanto mais optamos por produtos e empresas realmente preocupadas em fazer do mundo um lugar melhor, mais fortalecemos esse movimento e mais rápido veremos as mudanças necessárias.

Créditos pela foto: daqui

[1] Introdução à Economia Solidária – Ed. Fundação Perseu Abramo


Elaine Maria Costa
Elaine Maria Costa

Elaine Maria Costa é administradora, coach e permacultora, faz compostagem doméstica desde 2009. Em 2013 mudou-se de uma área urbana para morar numa chácara em Embu das Artes – SP com o objetivo de ter maior qualidade de vida, contato com a natureza e sustentabilidade pessoal.