Estive lendo varias notícias sobre o projeto do novo Código Florestal e observei as mais diversas opiniões sobre o assunto, tanto apoiando quanto criticando a proposta. O medo, no caso daqueles que apóiam a proposição, é que falte alimento ou que o preço desses alimentos se eleve muito em razão das previsões de aumento da demanda. Mas essa não deve ser o principal parâmetro para se avaliar a proposta.

As terras disponíveis para plantio são limitadas. Afinal, vivemos num mundo de tamanho e recursos finitos. Nada pode crescer infinitamente, por mais que a ciência trabalhe nesse sentido. Dito isso, só temos algumas poucas opções para evitar um colapso social e ambiental.

A carne é farta

Mais de 50 bilhões de animais são mortos todos os anos para suprir a demanda humana por carne. Dada essa quantidade, o consumo de carnes é um grande vilão para a falta de alimentos, desmatamento e aquecimento global. Com o aumento do consumo global de animais, criadores precisam aumentar a produção para atender a demanda, o que significa aumentar o consumo de grãos, água, pasto e aumento nas emissões de CO2.

Em 100 hectares de fazenda pode-se alimentar 1.100 pessoas com soja ou 2.500 com milho. Mas se essa produção se destinar à pecuária, a carne produzida só alimentaria oito pessoas (fonte:  daqui)

Além disso, para cada quilo de proteína animal são necessários de 3 a 10 kg de proteína vegetal (milho, soja, entre outros), 15 mil litros de água doce (para produzir um 1 kg de soja são gastos menos de 1.300 lts), 10 mil m2 de floresta desmatada (a pecuária gera 80% do desmatamento do bioma amazônico e 14% no mundo), entre outros (fonte: daqui).

Por isso, a única pessoa capaz de mudar esse quadro é o consumidor. Não vou dizer que fazer a opção voluntária de deixar de se alimentar de animais é fácil, ou mesmo que é uma opção para todas as pessoas. Essa é uma questão muito complexa que precisa ser avaliada caso-a-caso. Mas, o que todos nós devemos ter, é a percepção de que aquele animal que vamos consumir merece algum respeito por doar sua carne para nos servir de alimento.

Não podemos ignorar o que acontece entre a criação de um animal e a venda de um pedaço dele nos mercados. Respeito é fundamental. Conhecer como são criados os animais que nos dão sua carne, leite e ovos é, no mínimo, uma forma de diminuir nossa indiferença. O conhecimento nos dá poder para decidir consumir, ou não. Para optar por um produto ou produtor, ou aboli-lo completamente da lista de compras.

O verde das notas

Sabemos que o objetivo principal de qualquer organização é obter lucro dentro de sua área de atuação, incluindo o agronegócio. Por isso, quando o capital encontra governos fracos ou corruptíveis, seu papel regulador é significativamente reduzido.

Com o capital falando mais alto, áreas de mata nativa se transformam em empecilho para os lucros. Por isso, um novo código florestal que amplie a área disponível para cultivo é tão aplaudido por aqueles que fazem da terra seu negócio.

Mas onde está o problema aqui? Não precisamos dos alimentos e outros produtos oriundos do campo?

Sim, mas como comentei anteriormente, já temos mais do que o suficiente para alimentar toda a população. O que não temos é como conciliar um consumo crescente de carne e um aumento da demanda por outros alimentos sem manter nossas florestas em boa saúde. E, embora pouco se fale abertamente sobre o assunto, nossa qualidade de vida depende delas.

A conta é alta

Para se ter uma idéia, se fosse contabilizado o valor monetário do capital natural do qual desfrutamos hoje, este seria avaliado em algo como quatrocentos ou quinhentos trilhões de dólares, o que significa dezenas de milhões para cada habitante do planeta.

Somos dependentes de vários serviços de suporte à vida prestados gratuitamente pela natureza. Mas, apesar de nossa dependência, preferimos ignorar que o modelo econômico atual compromete todos esses serviços naturais.

Não existe outra maneira. Somente a mudança de hábitos e a escolha consciente podem sinalizar, para empresas e governo, que não queremos ser lembrados pela futuras gerações como aqueles que tiveram a oportunidade de fazer a diferença, mas a deixaram passar.

Créditos pela foto: daqui (cc by)


Elaine Maria Costa
Elaine Maria Costa

Elaine Maria Costa é administradora, coach e permacultora, faz compostagem doméstica desde 2009. Em 2013 mudou-se de uma área urbana para morar numa chácara em Embu das Artes – SP com o objetivo de ter maior qualidade de vida, contato com a natureza e sustentabilidade pessoal.