Enchente na rua Dr. Gabriel PizaA Revista Veja São Paulo de 16 de dezembro de 2009 (p. 24 a 30), diante do caos causado pelas chuvas no dia 08, levantou dez fatos que contribuem diretamente com as enchentes na cidade. Como o assunto é de interesse e responsabilidade de todos que vivem e passam pela Grande São Paulo, apresentou em seguida um resumo dos fatos:

1 – Quem joga lixo na rua é culpado pelas enchentes – 140000 metros cúbicos de lixo são retirados das águas do Tietê e Pinheiros todos os anos. Por menor que seja o lixo, jogado em local impróprio acaba indo para os rios, aumentando ainda mais os problemas das enchentes.

2 – Nossos rios são esgotos a céu aberto – todo o esgoto dos córregos da Grande São Paulo vão parar no Tietê ou Pinheiros. Isso porque essas cidades ainda não estão conectadas ao serviço de tratamento de esgoto da Sabesp por representarem custos para as prefeituras. Hoje, 84% do esgoto é coletado e 70% é tratado.

3 – A limpeza dos rios é insuficiente – apesar da quantidade de lixo retirado para ampliar a calha do rio Tietê ser grande (400000 m3), ainda é insuficiente. Se a calha do rio estivesse limpa, a inundação poderia ter sido evitada. Mas, do que adianta a prefeitura retirar sedimentos de a cada dia chegam mais?

4 – Os piscinões não saíram do papel – dos 100 piscinões previstos no Plano Diretor de Macrodrenagem, somente 43 estão construidos. Para construir os demais será necessário um desembolso de 1,1 bilhão de reais.

5 – Não há uma política de remoção de ocupações irregulares – cerca de 16000 pessoas ocupam ilegalmente áreas da várzea do Tietê, agravando os problemas quando o rio transborda. Para reverter o problema, a prefeitura tem planos de construir parques nessas áreas, o que vai custar 1,7 bilhão de reais. Apesar do plano para construir 34 parques ao longo de córregos e mananciais, só sete foram realizados. Outro problema é que não se sabe ao certo quantas pessoas vivem em áreas de risco (beira de córregos ou encostas), sem contar que essa população aumenta constantemente.

6 – A prefeitura limpa só 20% das galerias pluviais – dos 2850 quilômetros de galerias, a prefeitura limpa só 680 por ano.

7 – São Paulo cresceu de forma descontrolada – a temperatura média da cidade subiu 2,1 graus desde 1936 em razão do aumento das áreas em concreto. Esse calor também é um dos responsáveis pelas tempestades. Em bairros onde o concreto reina, com vias pouco arborizadas, sem parques e jardins, a temperatura chega a ser 4 graus maior do que em bairros arborizados.

8 – 45% da cidade é impermeável – como não há terra para absorver a água, esta vai para as galerias pluviais e acaba se acumulando nos leitos do rios.

9 – O trecho já pronto da nova pista da Marginal Tietê contribuiu para agravar os alagamentos – além da remoção da mata já existente, essa obra também impermeabilizou cerca de 7,1 quilômetros de área que antes era permeável. Por isso, não foi coincidência que vários problemas se apresentassem próximos à obra.

10 – Este dezembro será um dos mais chuvosos da história – para compensar o outono mais seco, estamos com uma primavera mais chuvosa. A previsão é de que choverá cerca de 300 mm em dezembro, 48% acima da média histórica para o mês.

Além dessas dez verdades incômodas, também existem os prejuízos causados pelas enchentes:

  • O Ceagesp perdeu cerca de 70 toneladas de alimentos e precisou interromper suas operações, representando um prejuízo de 15 milhões de reais.
  • A 25 de março recebeu 40% da média de 1 milhão de pessoas que costumam visitar o local, o que reflete em 9,6 milhões que deixaram de entrar para as empresas.
  • Muitos Shopping’s tiveram problemas para abrir as lojas, já que muitos funcionários não conseguiram chegar ao trabalho.

Como diz o ditado: se a cabeça não pensa, o corpo padece. E é isso que tem acontecido em nossa querida cidade de São Paulo. Apesar de estar claro como tantas coisas distintas acabam contribuindo para o mesmo problema, a resistência para resolve-los permanece. E isso acontece porque não é possível solucionar o problema sem a participação de todos. Assim, não podemos mais culpar este ou aquele: temos que assumir nossa responsabilidade pelo problema e fazer a nossa parte.

Créditos pela foto: Milton Jung CBNSP


Elaine Maria Costa
Elaine Maria Costa

Elaine Maria Costa é administradora, coach e permacultora, faz compostagem doméstica desde 2009. Em 2013 mudou-se de uma área urbana para morar numa chácara em Embu das Artes – SP com o objetivo de ter maior qualidade de vida, contato com a natureza e sustentabilidade pessoal.