World temperaturesEm seu artigo “O Desenvolvimento Sustentável é Compatível com a Civilização Ocidental”, Peter Russel desafia algumas premissas ditas incontestáveis ao mostrar os impactos reais que o desenvolvimento sustentável acarreta. De forma clara e objetiva, o autor nos mostra que um mundo sustentável é possível, mas somente se abrirmos mão do status quo do aquecimento econômico como remédio para todos os males.

Crescimento é sustentável?

A média de consumo de recursos de um ocidental é cem vezes mais do que uma pessoa consumia a duzentos anos, no início da Revolução Industrial e as previsões avisam que haverá cada vez mais bocas para alimentar e mais corpos para abrigar. Mas contrariando o pensamento usual, o crescimento econômico não foi capaz de promover o desenvolvimento necessário para promover a inclusão de todas as pessoas no mundo. De fato, o que vemos é o contrário, principalmente em relação aos negócios que competem em relação ao custo.

“É óbvio que num mundo finito nada que é físico pode crescer infinitamente. Apesar disso, nossa política atual parece aspirar a uma produção física infinitamente crescente.” Herman Daly autor do livro For the Common Good

A livre iniciativa não é mais tão benéfica como nos tempos de Adam Smith. Hoje o que vemos é uma sucessão de iniciativas visando atender a interesses exclusivamente individuais e que não consideram os interesses coletivos. Corrupção, furto, fraude e outras atitudes enganadoras mostram que todas as sociedades estão cheias de pessoas que se comportam única e exclusivamente para atender seus próprios interesses, e não agindo para promover o bem comum.

Juros e empréstimos

A cobrança de juros também é algo a ser questionado. Antes chamada de agiotagem, essa prática foi advertida no Antigo Testamento (Êxodo 22:25 e Deuteronômio 23:20) e até declarada ilegal pelo judaísmo. Para Aristóteles, consistia no mais injusto de todos os negócios e durante séculos foi considerada ilegal pelas leis canônicas da Igreja Romana, além de ser proibida pelo Alcorão.

Essa prática tende a fazer o rico mais rico e o pobre mais pobre, já que uma mesma quantidade de dinheiro, quando emprestada, passa a valer mais dinheiro. Quem empresta recebe um valor a título de aluguel, e quem paga precisa devolver o objeto do empréstimo mais o valor do aluguel. Mas, diferentemente de quando alugamos uma casa ou um carro, dinheiro é só uma idéia de valor, e não algo real; o tomador pode fazer algo de significativo com o dinheiro, mas o emprestador não fez nada.

Por fim, os empréstimos a juros são os grandes vilões da inflação, pois aumentam a quantidade de dinheiro em circulação para uma mesma quantidade de bens, fazendo o valor do dinheiro cair.

Democracia e suas prioridades

A forma em que a democracia é usada hoje é algo a ser repensado. Se o único objetivo dos políticos é atender aos interesses de seus eleitores, e se esses interesses não forem bons para a sustentabilidade de nossa sociedade, então os representantes eleitos terão como última prioridade fazer acordos para atenuar as mudanças climáticas. Isso acontece porque, gostando ou não, nossos interesses nunca estão verdadeiramente conectados ao longo prazo. Todas as nossas necessidades são imediatas e não podem esperar. Por isso, votamos naquelas pessoas que poderão nos dar o que queremos, e não o que realmente precisamos.

Apego ao nosso estilo de vida

O apego aos nossos estilos de vida é o grande responsável por nossas atitudes em relação ao desenvolvimento sustentável. Aprendemos a condicionar nosso bem-estar interior ao que está ao nosso exterior. Por isso, quanto mais consumimos para melhorar o exterior, achamos que isso nos fará mais felizes. O problema é que “o que é demais nunca é o bastante” (Legião Urbana).

Então, quando pensamos nas mudanças que seriam necessárias para aumentar nossa sustentabilidade, fica evidente que tais mudanças sacrificariam muito do nosso conforto atual e, infelizmente, ainda não estamos prontos para abrir mão dele. A pergunta então é: quando estaremos dispostos a fazer o que é necessário? Será que esse momento não chegará tarde demais?

Buscando respostas no mundo interior

“A esperança de todas as pessoas, em última análise, é simplesmente de ter paz de espírito.” Dalai Lama

Enquanto nosso ânimo estiver associado a preocupações e inquietações do mundo exterior, não haverá paz de espírito. Tal como Nasrundin, o sábio louco dos contos Sufi, que perdeu sua chave dentro de casa e foi procurar na rua pois lá fora havia mais luz, buscamos as respostas a nossas inquietações fora de nós mesmos; e nunca vamos encontrá-las enquanto não olharmos para dentro.

Referências

O artigo O Desenvolvimento Sustentável é Compatível com a Civilização Ocidental de Peter Russel pode ser encontrado no livro O Novo Negócio dos Negócios da Editora Cultrix Amana-Key

Créditos pela foto: Arenamontanus (cc by)


Elaine Maria Costa
Elaine Maria Costa

Elaine Maria Costa é administradora, coach e permacultora, faz compostagem doméstica desde 2009. Em 2013 mudou-se de uma área urbana para morar numa chácara em Embu das Artes – SP com o objetivo de ter maior qualidade de vida, contato com a natureza e sustentabilidade pessoal.