Todos falam sobre a globalização, para o bem ou para o mal, só que ainda não havia ocorrido uma grande oportunidade para verificar seus efeitos. Agora, percebemos que por mais estabilizado que esteja um país, isso não é garantia para sair ileso de uma crise econômica mundial. A questão é que hoje quase todos os países do mundo fazem comércio com outros países, e todos têm algum comércio com os Estados Unidos. Assim, dependendo do grau de comprometimento de suas exportações e importações, os efeitos sobre a economia podem ser devastadores.

Outra questão é que não vivemos um ciclo virtuoso (ou vicioso) na economia. O que existe é uma espiral, movida para cima e para baixo de forma pouco sustentável, já que uma espiral não pode subir eternamente.

Karl Marx, entre muitas considerações acerca da economia, apresenta três aspectos principais que compõem o sistema capitalista. São eles: terra, capital e trabalho. Mas além desses três, existem também outros aspectos, que são o consumidor, os bancos (e financeiras) e o crédito. A relação de dependência entre esses aspectos foi aumentando na medida que produzir para atender as necessidades mais imediatas das pessoas não gerou a riqueza que as organizações desejavam. Assim, além da criação do marketing com métodos de gerar novas necessidades quase diariamente, também houve a criação do crédito, que permite às pessoas se beneficiar, no presente, de algo que só teria direito no futuro (isto é, poupando).

Assim, mais crédito gera mais consumo, que gera mais receita para as empresas e aumenta a produção (que também é baseada em crédito), que também eleva os níveis de emprego e renda, que aumenta a busca por recursos produtivos e aumenta a exploração natural. Só que o crédito, fruto das instituições financeiras, vem com um brinde: os juros. E é esse vilão que hoje fazem as pessoas pensarem com mais carinho na hora de comprometer suas receitas futuras, já que as ameaças de corte de pessoal já pairam sobre muitas cabeças.

Então, no sentido inverso, a desconfiança que o consumidor hoje tem, não só com os juros do crédito mas também com o futuro do seu emprego, faz com ele passe a comprar os itens mais essenciais para o dia-a-dia, postergando decisões de compra de produtos mais caros, que comprometem as receitas futuras. O que acontece então é uma retração, pois, nesta economia baseada em consumo, se o consumo não existe as demais etapas são desnecessárias.

É claro que para alguém isso pode ser benéfico: o meio ambiente. Tive a oportunidade de participar esta semana da palestra com o tema “Desenvolvimento Sustentável e Ética Socioambiental: desafios corporativos do século XXI” ministrada pelo Professor Roberto Guimarães da FGV na Expomanagement, na qual ele fez uma afirmação interessante: a única coisa que é realmente globalizada é o MEIO AMBIENTE. Isso porque os efeitos da poluição e da exploração desenfreada não são sentidos somente por quem as comete, mas por todos no mundo. Basta ver que a estimativa de aumento da temperatura média mundial é de 6°, afetando países, consumidores, produtos, exportadores ou mesmo aqueles que ainda vivem na Idade Média. O Prof. Roberto também cita que a preocupação não deve ser o meio ambiente ou o desenvolvimento sustentável, mas sim a discussão sobre “padrões de consumo e padrões de produção”. Primeiro, porque a Terra já passou por várias mudanças climáticas e agüenta o tranco (só que a gente não) e segundo porque interferir na produção e no consumo está dentro do nosso círculo de influência.

Por fim, o que nós precisamos agora é refletir sobre o modelo atual baseado em outro nível de pensamento, como disse Albert Einstein: “Os problemas significativos com os quais nos deparamos não podem ser resolvidos no mesmo nível de pensamento em que estávamos quando eles foram criados.” (Os 7 Hábitos das pessoas altamente eficazes, p.58).

Esse é um período de transformação e necessita mais de uma visão humana do que de uma solução econômica.

Créditos: Prof. Ricardo Guimarães, Stephen R. Covey, PabloBM


Elaine Maria Costa
Elaine Maria Costa

Elaine Maria Costa é administradora, coach e permacultora, faz compostagem doméstica desde 2009. Em 2013 mudou-se de uma área urbana para morar numa chácara em Embu das Artes – SP com o objetivo de ter maior qualidade de vida, contato com a natureza e sustentabilidade pessoal.